HELLO STRANGER
this is about truth,beauty,freedom;but above all things,this is about love.

22.12.10

From J*

'Fazem cinco anos que ela não se alimenta bem. Ela nem mesmo dorme. Passa o dia pensando no que ela poderia ser. L* tem 24 anos e para muitos ela já está morta. Não diria que sua aparência é a mais linda, mas L* mantem suas bochechas coradas com um pouco de rouge. Seus lábios não veem cor há 5 anos, da mesma forma que L* não é a mesma há 5 anos.
Ela costumava ser daquelas garotas que a adolescencia não acaba. Tinha sempre um sorriso nos lábios e na mão, uma garrafa de vinho. Suas pernas tornas e finas eram paralizadoras de corações virgens. Ela tinha um melhor amigo e vários amores. Tinha um verdadeiro amor e vários amigos. Digamos que ela já tinha vivido mais que os anos lhe permitira. Fanática por música, dançava como ninguém. Ela se aprontava toda para essas noites em que o som ditava as regras. Não havia ninguém como ela na pista. O chão cantava com seus movimentos. Enquanto uns ficavam mentalmente falando: "Um, dois, três, quatro.", ela já estava na sua vigésima sétima volta. Ela dominava o lugar. Lembro-me muito bem de um dia em que ela entrou na festa vestida de negro. Sua pele branca, seu cabelo marrom sobre os olhos verdes, um piercing no nariz... L* estava esplendorosa. A figura plena de uma deusa em minha direção caminhava. Me olhou de um jeito nigmático e ficou me olhando, como se quisesse falar algo mas não se sentisse a vontade. Eu lembro dela dizer que me amava e saiu pra dançar.
É incrível como a última noite, sintetizou todas as coisas que já tínhamos feito juntas. Eu, naquela noite, atrás do meu copo de vodga, vi ela dançar como nunca tinha dançado. L*, era a mulher que eu queria pra toda vida. Meu erro foi não ver que ela ainda era uma garota, que amava dançar.
Naquela noite, tudo estava acertado por baixo dos panos, por alguém que ainda não se revelou. Ela sorria enquanto dançava e eu queria mostrar para ela a poesia que fiz.

"Enquanto te vejo por trás de cordas
Meu peito te grita as mais duras notas
Sentindo teu corpo bailar no salão
Pr'os braços de outros corre teu coração.
E assim, fico só.
Sem você, nem sol e nem dó"

Ela parou no meio da dança e me olhou com os olhos dissimulados que tinha. Me senti arrepiada dos pés à cabeça. Parei de cantar e fiquei olhando as pessoas seguindo. As que já tinham tomados seus destilados, não perceberam, mas naquele momento, o mundo parou para eu e ela nos olharmos. Ela me dizia tantas coisas, mesmo estando no fundo da boate. Era quase meia-noite, e as coisas parecem todas serem marcadas para essa hora, caiu sobre a pista uma chuva de confetes feitos de papel de seda branco. Na chuva branca ela parecia um anjo pra mim, mesmo com olhos de demônio. Ela saiu correndo, descendo a escada que levava para a saída. Eu não pensei se podia ou não podia, eu só deixei minha bebida e 'ficante' de lado e saí correndo...
L* estava andando no meio das ruas e os carros buzinavam incessante pelo seu modo desengonçado de andar. Ela estava brincando de "mortinha" como costumava dizer: Quem morrer primeiro, perde. Brincando só, vestida de negro por entre carros. Eu não a chamei, mas de repente ela parou no meio da rua e olhou exatamente para onde eu estava. Eu sorri e me aproximei da beira da calçada. Ela sorriu e disse: "Percebi que você não estava se divertindo. Como está Camila?" Eu fiquei ouvindo ela falar, entendendo o que ela falava, mas ainda não tinha formulado nada para eu dizer. Tudo o que pensava naquela hora, era por quê ela estava ali. Eu sentia um cheiro bom de baunilha com o cheiro de quando minha mãe fervia mamadeira pra mim. Ela ficou séria e me perguntou sobre a música. Eu ainda não tinha nada para responder. Ela saiu do meio da rua, foi até a calçada onde eu estava e se despediu.
Eu não fiz nada e me odeio por isso. Eu fiquei calada pensando naquela situação. Quando L* já estava cruzando a esquina, ela disse com uma voz meio embargada: "Sinto falta dos nossos dias". Goshh... Aquilo foi uma facada no meu coração. Eu gritei, mas ela não voltou. Saí correndo em sua direção impetuosamente e a vi pegar um taxi. Ela foi para seu apartamento e eu também iria pra lá. Correndo eu fui e não vi o tempo passar. Cheguei lá por volta de 2h da manhã. A gritei na portaria e ela ascendeu a luz. Me olhou pela janela, e coçando o olho sorriu. Ela desceu e me chamou para entrar. Subimos. Sentamos na sala e ela me olhava sem parar. Não dissemos nada. Não havia necessidade de falar. Ela subiu em meu colo e me beijou enquanto cantava nossa música. Aquilo me deixou deveras excitada. Ela tinha uma voz suave e discreta. Eu amava aquilo. Era como quando morávamos juntas. Era lindo. Ainda estava ela com o vestido negro. Na mesinha do centro tinha um pouco de vinho gelado, o que explica o gosto de uva em seus lábios. L* estava ligeiramente bebâda. Me pediu pra que a bebesse. Eu então peguei a garrafa de derramei no seu corpo branco, e tomei cada gota de vinho, que descia pelos seus seios, pelos, dedos e pernas. Foi uma noite incrível. Ali mesmo na sala. Pintamos o sofá de vermelho-vinho.
Na manhã seguinte eu tive que ir embora. Acordei prontamente às 6h da manhã. Me arrumei e saí. Não consegui falar com ela depois, mas ainda amo demais aquela mulher. Isso faz cinco anos. Há cinco anos tento falar com ela. Depois daquela noite. Faz cinco anos que ela não se alimenta bem. Ela nem mesmo dorme. Passa o dia pensando no que ela poderia ser. Luana (sim,preciso dizer o nome dela. Nome lindo,que está escrito na minha parede) tem 24 anos e para muitos ela já está morta. Não diria que sua aparência é a mais linda, mas LUANA mantem suas bochechas coradas com um pouco de rouge. Seus lábios não veem cor há cinco anos, da mesma forma que Luana,minha Luana não é a mesma há cinco anos. Eu sei, por que estou assim há longos e vazios,cinco anos.'

12.12.10

- Tati Bernardi

“Aperta minha mão e me diz que eu posso deixar tudo isso pra trás sem tanta dor.”