HELLO STRANGER
this is about truth,beauty,freedom;but above all things,this is about love.

21.5.10

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[...] "Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme...só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!."

[Caio F.]

20.5.10

Because i want you

(...)Peço licença ao meu ódio tão feio e tão infinito para te amar só mais uma vez. Quero te amar sozinha aqui, na minha casa nova, em minha quase nova vida. Quero esquecer todo o nada que você representa e dar contorno aos desenhos que não saem da minha cabeça. Nunca entendi seu coração, nunca entendi seus olhos, nunca entendi suas pernas, mas só por hoje queria poder lamber sua fumaça para que ela permanecesse mais, pesasse mais. É libertador esquecer meu desejo de vingança, a vontade que tenho de explodir sua vida, o vício que tenho de passar mil vezes por dia, em pensamento, ao seu lado. E pisar em cima da sua inexistência e liberdade. Chega disso, só pelo tempo em que durarem estas letras e a música que coloco para reviver você, vou te amar mais esta vez. Vou me enganar mais uma vez, fingindo que te amo às vezes, como se não te amasse sempre. Eu nunca aceitei a simplicidade do sentimento. Eu sempre quis entender de onde vinha tanta loucura, tanta emoção. Eu nunca respeitei sua banalidade, nunca entendi como podia ser tão escrava de uma vida que não me dizia nada, não me aquietava em nada, não me preenchia, não me planejava, não me findava. Nós éramos sem começo, sem meio, sem fim, sem solução, sem motivo. Ainda assim, há meses, há séculos que se arrastam deixando tudo adulto demais, morto demais, simples demais, exato e triste demais, eu sinto sua falta com se tivesse perdido meu braço direito. Esse amor periférico, ainda que não me deixe descoberto o peito, me descobre os buracos. Não são de suas palavras que sinto falta. Não é da sua voz meio burralda e do seu bocejo alto demais para me calar e me implorar menos sentimentos. Não é, tampouco, do seu abraço. Sua presença sempre deixou lacunas e friagens que zumbiam macabramente entre tantas frestas sem encaixe. Não sinto saudades do seu amor, ele nunca existiu, nem sei que cara ele teria, nem sei que cheiro ele teria. Não existe morte para o que nunca nasceu. Sinto falta mesmo, para maior desespero e inconformismo do meu coração metido a profundo, de lamber suas coxas, a pele mais lisa atrás dos joelhos. Lamber sua virilha, sentir seu cheiro, brincar com seu umbigo, respirar sua nuca, engolir sua simplicidade, me rasgar com sua banalidade, calar sua estupidez, respirar seu ronco, tocar sua inexistência, espirrar com sua fumaça. Sinto falta da perdição involuntária que era congelar na sua presença tão insignificante. Era a vida se mostrando mais poderosa do que eu e minhas listas de certo e errado. Era a natureza me provando ser mais óbvia do que todas as minhas crenças. Eu não mandava no que sentia por você, eu não aceitava, não queria e, ainda assim, era inundada diariamente por uma vida trezentas vezes maior que a minha. Eu te amava por causa da vida e não por minha causa. E isso era lindo. Você era lindo. Simplesmente isso. Você, uma pessoa sem poesia, sem dor, sem assunto para agüentar o silêncio, sem alma para agüentar apenas a nossa presença, sem tempo para que o tempo parasse. Você, a pessoa que eu ainda vejo passando no corredor e me levando embora, responsável por todas as minhas manhãs sem esperança, noites sem aconchego, tardes sem beleza. Sinto falta da raiva, disfarçada em desprezo, que você tinha em nunca me fazer feliz, sinto falta da certeza de que tudo estava errado, mas do corpo sem forças para fugir, sinto falta do cheiro de morte que carregávamos enquanto ainda era possível velar seu corpo ao meu lado, sinto falta de quando a imensa distância ainda me deixava te ver do outro lado da rua, passando apressado com seus ombros perfeitos. Sinto falta de lembrar que você me via tanto, que preferia fazer que não via nada. Sinta falta da sua tristeza, disfarçada em arrogância, de não dar conta, de não ter nem amor, nem vida, nem saco, nem músculos, nem medo, nem alma suficientes para me reter. Prometi não tentar entender e apenas sentir, sentir mais uma vez, sentir apenas a falta de lamber suas coxas, a pele lisa, o joelho, a nuca, o umbigo, a virilha, as sujeiras. Sinto falta do mistério que era amar a última pessoa do mundo que eu amaria...



- Tati Bernardi (eu acho)

Tudo que não mata,deixar uma marca

Esparadrapo, fita isolante, cola, prego, pilha, parafuso. Já tentaram de tudo e não tem jeito, o brinquedo está quebrado e não tem mais conserto, nunca mais vai funcionar direito. Pano, linha, agulha. Não adianta nada. Boneca bonitinha de boca costurada, com olhos arregalados sempre parecendo assustada, tem o pescoço e as mãos rabiscadas de um vermelho que parece sangue. Ela andava, fascinante, alucinante. Até quebrar, tão, tão invisível. Chocante, de lado, largada de depois de ser usada. Quebrada, costurada, rabiscada. Pra sempre com defeito.


- Mariana Romariz

18.5.10

Goles da vida

Não conseguia dormir. Ainda sentia os efeitos da bebedeira. Jurou nunca mais colocar uma gota de álcool na boca. Sempre quebrava a promessa. Mas é que "nunca mais" era muito tempo. Lembrou do primeiro porre, há 9 anos, em uma festa do cursinho de inglês. Como era feliz naquela época. Não há nada que se compare a segurança e o aconchego do lar dos pais. Só eles cuidam e não deixam faltar nada.

A ressaca chega quando bem entende. Chega para ficar. Sentiu o gosto do vômito e as marteladas na cabeça. Pensou no que poderia ter sido na vida. Não conseguia entender como tudo deu errado e agora tinha que se contentar em ser uma simples atendente e receber um salário mínimo. Ainda mais depois de todo investimento de seus pais que a colocaram somente em escolas particulares e cursos. Até a bancaram na cidade grande quando tentou ser artista. Onde havia errado?

A sua única certeza era a decepção dos pais. Eles a olhavam com aquela expressão de dó que dá para sentir cortar a pele. Vivia com o sentimento eterno de não ter sido a filha que desejavam. Arrependeu-se de ter tomado o primeiro gole de whisky barato e de todas as consequências disto.

Aos 24 anos, perdida, ainda vive nos fundos da casa da mãe. Trabalha para sustentar os vicios e os bichos e se conformou em cumprir hora extra. Sua única expectativa é que a morte chegue logo.

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A verdade está lá, no frasco de seu exame de sangue. E precisa ser mais que médico para enxergá-la. Só os mais fortes e audaciosos sabem sua localização.
A gente aprende a ser resistente na marra.

6.5.10

Nessa espera o mundo gira em linhas tortas.

- Você ainda me ama?
- Não.
- E por que não?
- Aprendi a gostar apenas daquilo que me faz bem, e você, definitivamente, não está incluso nessa lista.
- Eu mudei. Juro que mudei.
- Não acredito em mudanças humanas, meu caro.
- Acredita em quê, então?
- No inverso de você. As pessoas não mudam, elas são. Você estava apenas usando seu lado de fora e, quem sabe, esteja usando agora seu lado de dentro.
- Entendo.
- Entende o quê?
- O que você acabou de dizer.
- Não, você não entende, aliás, não há algo que possa ser entendido. Apenas é.
- MAS EU ENTENDO!
- Não seja estúpido! Como diz entender algo que não pode ser entendido? É como ler o não-escrito. Por favor, não me lastime mais. Estou enjoada de presenças assim, como a sua. Vá embora.
- Me desculpe.
- Rá, guardarei tuas desculpas, meu jovem. Agora, antes que a repulsa não caiba mais nesse frágil conjuto de células, extinga-se, now.
- Você é avassaladora,moça, sempre foi.Extraordinariamente única. Eu vou, mas vou levando comigo a esperança.
- Esperança de quê?
- De que um dia, e que, por Deus, esse dia não demore, você passe a usar também seu lado externo, então nos encontraremos no meio do caminho, depois de termos os dois desfrutado de nossos lados opostos. E assim, como entendo você agora, você me entenderá depois.Tome este beijo, guarde-o. Eu a espero no meu futuro.

Destinatário Oblíquo.

Recebi por email hoje de manhã:

To: luana.3001@hotmail.com
From: ange.barros@ymail.com


'Olha, moça, me desculpe tamanha ousadia, mas eu quero saber mais sobre você.
Você disse que prefere não sentir, mas não disse se consegue sentir.
Disse que enjoa fácil das coisas e eu tenho a impressão de que as coisas enjoam de você primeiro.
Você vive rodeada de sentimentos frívolos, no entanto afirma ter a intensidade como sua característica saliente. Não entendo quando diz não suportar as nossas enfadonhas conversas semanais e poucos dias depois implora delicadamente por uma palavra minha.
Eu não entendo a sua indiferença nos primeiros dias do mês e insistência no últimos.
Não entendo você e não gosto do seu jeito dissimulado de agir.
Eu não suporto pessoas que dizem apenas o que está escrito no roteiro e parecem caminhar com medo de qualquer ladeira que ameace surgir no meio do caminho.
E eu ainda não sei compreender sua mentezinha calculista, por isso reservo minutos meus para escrever sobre a sua existência incômoda - não eminente. E por favor, não pense que, ao perpetuá-la em um texto, eu estarei excedendo-a. Não é nada disso, nem daquilo. Mas você incita minha curiosidade e me lembra o personagem central de um filme que assisti mês passado.
Ah! Eu queria mesmo saber mais sobre você, e até tentei uma aproximação humana lhe oferecendo um texto morno, mas você é gélida demais para sentir minhas palavras. As minhas e todas as outras palavras ditas pela metade do mundo.
E eu me enganei. Você não é interessante como um bichinho de estimação que ganhamos e ficamos ansiosos para adestrá-lo e vê-lo repetir os movimentos que o ensinamos no domingo à tarde - na maioria das vezes esses bichinhos demonstram emoção, mas você não.
Era curiosidade a única coisa que me ligava a você.(ou você a mim?!) E agora que este fio fora cortado e o elo que ainda nos prendia dentro desse mesmo teatro foi rompido?
Eis a descoberta:
Eu não a procurava. Eu me procurava dentro de você. E você, minha querida, não era nada além de um meio de transporte - Defeituoso, por sinal .'



=O/