HELLO STRANGER
this is about truth,beauty,freedom;but above all things,this is about love.

21.1.11

Montaigne

"Eu gostava dela e não sabia explicar por que.
Eu gostava dela e ponto.

(...alguns anos depois.)

Eu gostava dela porque era ela e ponto.

(... e depois.)

Eu gostava dela porque era ela, porque era eu!"



19.1.11

A vizinha

...ela entrou com a altivez do passado. Sentou elegantemente, cruzou as pernas finas. Usava um modelo que marcava a cintura, raridade para quem já passou dos sessenta. Conversou sobre viagens, fofocou graciosamente por alguns instantes e então começou a narrar o passado.Disse que além de frequentar festas, desfilava. Arrumou o corpo esguio na cadeira enquanto me contava isso, fez pose de modelo. Não duvidei. ‘Recebi convites, minha vida poderia ser diferente’; desabafou sorrateiramente. Repentinamente deixou escapar um desalento: ‘eu tive medo, muito medo. Mas não me arrependo’, emendou. Eu entendi. Não podia deixar-se julgar a essa altura da vida. Precisava acreditar que não tinha culpa pelo futuro que escolheu. No passado era bonita, popular e sabida demais para priorizar qualquer coisa além de sua liberdade. Hoje a beleza se foi sem deixar resquícios. Mas ainda conserva o brilho dos olhos verdes. Ai, a frivolidade. A rebeldia passou, a música acabou. Mas ainda tem lembranças e enaltece os gestos do passado. Solta vez ou outra um ‘infelizmente’, que disfarça com um sorriso rápido. ‘Quanta lembrança bonita a senhora tem’, falei sem inveja. Ela adorou. Invejou-se profundamente. Sorri levemente. Despediu-se, colocou as mãos na cintura e foi embora desfilando. Desceu a escada alinhadamente rumo a vida que escolheu naquele lugar estável, bonito e possível: o passado.


- Maria

6.1.11

From: J*

'Ela tinha o rosto desenhados em traços exóticos. O que fazia uns a acharem a menina mais bonita ou feia. E cada um desses traços seguravam as pesadas gotas de ouro que saiam de seus olhos. Havia diferença no que ela dizia quando estava ou não sob o efeito de drogas. Quando bebia, encarnava o seu próprio lado masculino. Quando fumava, era leve.
O que tanto me prendia a atenção, era saber o que levava tais traços à encher-se de tantas coisas que o esvazia. Ela se destacava. No meio de tantos amarelos, ela era o roxo. E eu gostava disso. Gostava da embriaguez sem álcool que ela tinha, gostava da sanidade alcoolica que ela tem. Gostava de seus muitos vinis guardados dentro de pequenos saquinhos transparentes e das voltas que seus pés faziam entorno da minha casa. Gostava do seu all star preto, e tinha saudade, eu confesso que tinha saudade de seus olhos verdes.
Ela era assim, ela me dizia coisas que não queria dizer. Ela me falava coisas que não queria falar. Eu só queria saber quem ela era. Nada. Eu sentia então que ela já não estava aqui.
Enfim. Ela foi embora e tudo o que deixou para trás foram palavras que ela não disse. Posso até querer que volte, mas sei que é bem melhor que ela se vá. Seu vermelho já não me esquenta mais. Nem seus mistérios me intrigam.Ouvi dizer por aí que ela é exatamente o que pregam: Serial Killer. Tola fui eu que pensei que não seria mais uma vítima. Mas cá estou eu a falar sobre o quanto ela me feriu. Com suas risadas insanas, com seu andar insano, com seu jeito de me chamar pra perto. Ela simplesmente foi me ferindo aos poucos como se fosse pequenas agulhadas num coração que há muito não palpitava.Vermelha. Era a cor que eu a via. Toda vermelha, reluzindo o vermelho que só ela tinha. Um vermelho terno e quente. Vermelho que me deixava assim, tão púrpura, tão magenta, tão ciano.Talvez ela só goste de um contraste, talvez ela queria me ver mal. Mas essas dúvidas não me chamam a atenção. Hoje eu digo: Adeus pequena vermelha, sua vida não me importa mais
Eu queimei todas as suas coisas que ocupavam meu espaço, que tomava meu ar. Eu passei tantos dias dentro do seu aquário, enquanto você vinha me olhar de vez em quando.'