HELLO STRANGER
this is about truth,beauty,freedom;but above all things,this is about love.

14.4.10

Redenção

Ana acordou, mais uma vez, sozinha na cama. Sentiu o que já lhe era de costume: o gosto de culpa. Na realidade, essa era sua vida. Viver com mea culpa. Colocou as mãos no rosto e fechou os olhos bem apertados. Queria morrer. Sentia sempre o mesmo frio na barriga. O arrependimento deixa um nó bem no meio do peito. Aquela vontade de não ter feito, de morrer de culpa. Mea culpa, mea máxima culpa.

Se olhou no espelho e não conseguia enxergar o próprio reflexo. Pensou em quantas vezes já tinha deixado de se enxergar. Apenas olhando o vulto, em automático. Um borrão preto. Parou e tentou olhar nos seus próprios olhos. Não se reconhecia. Parecia uma outra mulher bem a sua frente. Na realidade, pensou que os espelhos podem captar, às vezes, o interior da pessoa. Era assim que ela se sentia por dentro, com o coração cheio de piche. Não demorou muito para que o pensamento sobre seus atos a consumisse. Culpa, frio na barriga novamente...

Tinha convicção que não prestava. Não valia nada. Ter crise de consciência é coisa de gente que não presta. Ser injusta faz parte da vida? Lembrou que ele estava em sentido oposto. Seguia em direção aos céus, ela, tentava encontrá-lo na porta do inferno.

Infelizmente os arrependimentos são eternos. Quem dera pudéssemos voltar no tempo e desfazer nossos atos. Ao contrário, podia voltar ser aquela mulher que mandava o passado pastar. Viver sem culpa é ser feliz. Havia mudado nos últimos anos, agora, a culpa a corroia e a matava de um jeito que nunca tinha visto. Desconhecia. Seria prazer ou alguma coisa cristã se infiltrando em seus ideais? Sabia que o peso, o fardo, deixaria marcas provisórias.

Enquanto se arrumava para mais um dia, ia diminuindo. Ana errou. Sabia que tinha tomado uma decisão estúpida. Ela sabia que ele um dia cansaria de tantas mentiras. Mesmo ele, com toda paciência e amor. Ele continuava porque queria ter certeza que tentou até o fim. O fim. Essa maldita mania de levar tudo até o fim.

Ana foi à igreja.Sentou e ficou olhando a imagem de uma santa. Tão branquinha, tão fria, tão de porcelana. Sentiu vontade de botar a cabeça nos pés dela e ficar ali, tentando se sentir melhor, tentando ficar limpa e branquinha que nem ela. Não aconteceu. Infelizmente, não existe redenção. Na realidade, não existe nada. Só existe o que já aconteceu. Existe apenas o que a corrói. Até que ela morra e nasça de novo.