Não conseguia dormir. Ainda sentia os efeitos da bebedeira. Jurou nunca mais colocar uma gota de álcool na boca. Sempre quebrava a promessa. Mas é que "nunca mais" era muito tempo. Lembrou do primeiro porre, há 9 anos, em uma festa do cursinho de inglês. Como era feliz naquela época. Não há nada que se compare a segurança e o aconchego do lar dos pais. Só eles cuidam e não deixam faltar nada.
A ressaca chega quando bem entende. Chega para ficar. Sentiu o gosto do vômito e as marteladas na cabeça. Pensou no que poderia ter sido na vida. Não conseguia entender como tudo deu errado e agora tinha que se contentar em ser uma simples atendente e receber um salário mínimo. Ainda mais depois de todo investimento de seus pais que a colocaram somente em escolas particulares e cursos. Até a bancaram na cidade grande quando tentou ser artista. Onde havia errado?
A sua única certeza era a decepção dos pais. Eles a olhavam com aquela expressão de dó que dá para sentir cortar a pele. Vivia com o sentimento eterno de não ter sido a filha que desejavam. Arrependeu-se de ter tomado o primeiro gole de whisky barato e de todas as consequências disto.
Aos 24 anos, perdida, ainda vive nos fundos da casa da mãe. Trabalha para sustentar os vicios e os bichos e se conformou em cumprir hora extra. Sua única expectativa é que a morte chegue logo.